quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sobre a Informação

Com a consolidação da burguesia – da qual a imprensa, no alto capitalismo, é um dos instrumentos mais importantes – destacou-se uma forma de comunicação (...) a informação.

Villemessant, o fundador do Figaro, caracterizou a essência da informação com uma fórmula famosa: “Para meus leitores, o incêndio num sótão do Quartier Latin é mais importante do que uma revolução em Madri”. Essa fórmula lapidar mostra claramente que o saber que vinha de longe – do longe espacial das terras estranhas, ou do longe temporal contido na tradição -, dispunha de uma autoridade que era válida mesmo que não fosse controlável pela experiência. Mas a informação aspira por uma comunicação imediata. Antes de mais nada, ela precisa ser compreensível “em si e para si”. Muitas vezes não é mais exata que os relatos antigos. Porém, enquanto esses relatos recorriam freqüentemente ao miraculoso, é indispensável que a informação seja plausível. Nisso ela é incompatível com os espírito da narrativa. Se a arte da narrativa hoje é rara, a difusão da informação é decisivamente responsável por esse declínio.

Cada manhã recebemos notícias de todo o mundo. E, no entanto, somos pobres de histórias surpreendentes. A razão é que os fatos já nos chegam acompanhados de explicações. Em outras palavras, quase nada do que acontece está a serviço da narrativa, e quase tudo está a serviço da informação. Metade da arte narrativa consiste em evitar explicações. (...) [O leitor] Ele é livre para interpretar a história como quiser, e com isso o episódio narrado atinge uma amplitude que não existe na informação.
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Por Walter Benjamin (1892-1940) - Filósofo, crítico literário, membro da Escola de Frankfurt
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"- Vê aí o telégrafo!... Ao pé do divã. Uma tira de papel que deve estar a correr.
E, com efeito, duma redoma de vidro posta numa coluna, e contendo um aparelho esperto e diligente, escorria para o tapete como uma tênia, a longa tira de papel com caracteres impressos, que eu, homem das serras, apanhei, maravilhado. A linha, traçada em azul, anunciava ao meu amigo Jacinto que a fragata russa Azoff entrara em Marselha com avaria!
Já ele abandonara o telefone. Desejei saber, inquieto, se o prejudicava diretamente aquela avaria da Azoff.
-Da Azoff?... A avaria? A mim?... Não! É uma notícia."
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Por Eça de Queirós, em 'A Cidade e as Serras'

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