Meu gosto agora é ser feliz, em uso, no sofrer e no regalo. (...) Para trás, o que passei, foi arremedando e esquecendo. Ainda achei o fundo do meu coração.
A gente tem é de ser miúda, mansa, feito botão de flor.
Eu ficava espremida mais pequena, na parede minha unha riscava rezas, o querer outras larguras.
E o governo da vida?
Experimentei finuras novas – somente em jardim de mim, sozinha.
Ri muito útil ultimamente.
Tudo o que é bom faz mal e bem.
Quero o bom-bocado que não fiz, quero gente sensível. De que me adianta estar remediada e entendida, se não dou conta de questão das saudades?
Fragmentos do conto - 'Esses Lopes'
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Tudo, para mim, é viagem de volta.
Mas não cismo como foi que ele no barranco se derrubou, que rendeu a alma. Decido? Divulgo: que as coisas começam deveras é por detrás, do que há, recurso; quando no remate acontecem, estão já desaparecidas. Suspiros. Declaro, agora, defino. O senhor não me perguntou nada. Só dou resposta ao que ninguém me perguntou.
A gente espera é o resto da vida.
Decido. Pergunto por onde ando. Aceito, bem-procedidamente, no devagar ir longe. Voltar, para fim de ida. Repenso, não penso. Dou de xingar meu falecido, quando as saudades me dão. Cidade grande, o povo lá é infinito.
do conto - 'Antiperipléia'
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Ou começava a interrogar-se, desestruturando-se sua defesa. Frescura, quase felicidade; e espinhos perseverantes.
Do nada, nada obteve.
Tudo, quanto há, é saudade alternando-se com novidades: diagrama matemático em calor de laboratório. O diabo não é inteiro nem invento.
Foram felizes e infelizes, misturadamente.
do conto - 'A vela ao Diabo'
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Mas o mundo não é um remexer de Deus? – com perdão, que comparo. (...) Olhos põem as coisas no cabimento.
Agora, de tão firme ele cambaleava, pelos ses e quases, tirado de qualquer resolver.
(...) Ele, vem, me espreitou nos centros, ele suspirava pelos olhos.
Mas ele recedia, ao triste gosto, como um homem vê de frente e anda de costas.
De lá a gente saiu, arrastando eu aquele peso alheio, paixão, de um coração desrespeitado.
Não há como um tarde demais – eu dizendo – porque aí é que as coisas de verdade principiam.
do conto - 'Curtamão'
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Todo abismo é navegável a barquinhos de papel.
O trágico não vem a conta-gotas.
Todo fim é impossível? (...) O tempo é engenhoso.
Sempre vem o imprevisível o abominoso? Ou: os tempos se seguem e parafraseiam-se.
Suas lágrimas corriam atrás dela, como formiguinhas brancas. (...) Era o seu amor meditado, à prova de remorsos.
A bonança nada tem a ver com a tempestade. Crível? (...) incrível? É de notar que o ar vem do ar. De sofrer e de amar a gente não se desfaz.
(...) operava o passado – plástico e contraditório rascunho. Criava nova, transformada realidade, mais alta. Mais certa?
Haja o absoluto amar - e qualquer causa se irrefuta.
Trêz vezes passa perto da gente a felicidade.
do conto - 'Desenredo'
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Só perigos o esperassem, repelia pensamentos, ninguém está a cobro da doideira de si e dos outros.
(...) por própria justa defesa, é quando a gente se estraga.
Em mente de olhos ele aprendia o caminho.
Teve de querer rir simples.
do conto - 'Droenha'
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Pois era assim que era, havendo muita realidade. Que faziam estas almas?
Nenhuma delas ganhara da vida jamais o muito – que ignoravam que queriam – feito romance, outra maneira de alma.
Deus é quem sabe o por não vir. A gente se esquece – as coisas lembram-se da gente.
Falava-se de uma ternura perfeita, ainda nem existente; o bem-querer sem descrença. Enquanto isso, o tempo, como sempre fingia que passava.
Sua saudade - tendência secreta - sem memória.
Sua saudade cantava na gaiolazinha; não esperar inclui misteriosas certezas. [...] “Todo dia é véspera...”
do conto - 'Arroio das Antas'
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Por João Guimarães Rosa, em Tutameia (Terceiras Histórias). Editora Nova Fronteira