quinta-feira, 20 de junho de 2013

O vermelho sempre verde dos sinais

sirenes, bares em chamas,
carros se chocando,
     a noite me chama,
a coisa escrita em sangue
     nas paredes das danceterias
e dos hospitais,
     os poemas incompletos
e o vermelho sempre verde dos sinais

Por Paulo Leminski

domingo, 9 de junho de 2013

Culpa

Meia noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vêde:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."
— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o tecto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!


Por Augusto dos Anjos, poema 'O Morcego'