segunda-feira, 14 de junho de 2010

DESCOMPASSO

Bem entendido, o verdadeiro amor é excepcional, dois ou três em cada século, mais ou menos. No restante do tempo, há a vaidade ou o tédio. (...) Não tenho o coração seco, longe disso, mas, pelo contrário, cheio de ternura, e mais: tenho a lágrima sempre fácil. Só que meus impulsos sentimentais voltam-se sempre para mim e meus enternecimentos dizem respeito a mim. Não é verdade, afinal, que eu nunca tenha amado. Tive em minha vida pelo menos um grande amor, de que fui sempre eu o objeto. Sob esse aspecto, depois dos inevitáveis problemas da juventude, depressa me havia decidido: a sensualidade, e só ela, imperava em minha vida amorosa. Buscava sempre objetos de prazer e de conquista. (...)
Nessas relações, aliás, eu satisfazia ainda outra coisa, além de minha sensualidade: meu amor pelo jogo. (...)
Mudava muitas vezes de papel, mas se tratava sempre da mesma peça.

Por Albert Camus, em 'A Queda'

terça-feira, 8 de junho de 2010

Do amoroso esquecimento

Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

Por Mário Quintana, em 'Espelho Mágico'