Dia desses, precisei escrever um contrato e a solicitação trazia muitos termos em inglês.
Tipo gift, no lugar de brinde, e backstage, em vez de bastidores.
Sempre me pergunto quando foi que a gente ficou tão cafona. Quando passamos a achar que rooftop é chique e laje é precário?
Outra coisa que sempre penso: a cachaça, como bebida, é MUITO superior à vodka. Mesmo assim, o brasileiro usa os termos pinguço, cachaceiro, pejorativamente, para se referir a todo aquele que exagera em bebidas alcoólicas, associando a descompostura sempre à pinga, como se as outras bebidas fossem mais "soft" e não causassem porre e ressaca.
Como se nossa deliciosa (e cobiçada internacionalmente) cachaça fosse de quinta categoria. Pinga e cachaça, para o brasileiro, trazem em sua conotação um recorte social e comportamental. Preconceito semântico.
Embora a história da cachaça seja controversa em relação à sua origem e invenção, no geral, o brasileiro gosta de desprezar seus bens e valores, ao mesmo tempo em que enaltece e supervaloriza os dos americanos e europeus, por mais que sejam podres.
Por exemplo, armar a população brasileira, desconsiderando o seu nível de desigualdade social. Não é difícil perceber que vai dar ruim. Mesmo assim, estamos tentando copiar o modelo americano (que inclusive dá errado lá).
E tome fast food.
O hostoriador Luiz Felipe de Alencastro cunhou o termo AMERICANALHAÇÃO, para falar deste processo no Brasil. Acho muito apropriado.