terça-feira, 15 de março de 2011

PELA RUA

Sem qualquer esperança
Detenho-me diante de uma vitrina de bolsas,
(...)
enquanto o crepúsculo se desata sobre o bairro.

Sem qualquer esperança
te espero.
Na multidão que vai e vem
entra e sai dos bares e cinemas
surge teu rosto e some
num vislumbre
...........................e o coração dispara.
Te vejo no restaurante
na fila do cinema, de azul
diriges um automóvel, a pé
cruzas a rua
..................miragem
que finalmente se desintegra com a tarde acima dos edifícios
e se esvai nas nuvens.

A cidade é grande
Tem quatro milhões de habitantes e tu és uma só.
Em algum lugar estás a esta hora, parada ou andando,
talvez na rua ao lado, talvez na praia
talvez converses num bar distante
ou no terraço deste edifício em frente,
talvez esteja vindo ao meu encontro, sem o saberes,
misturada às pessoas que vejo ao longo da Avenida.

Mas que esperança! Tenho
uma chance em quatro milhões.
Ah, se ao menos fosses mil
disseminada pela cidade.

A noite se ergue comercial
nas constelações da Avenida.
Sem qualquer esperança
continuo
e meu coração vai repetindo teu nome
abafado pelo barulho dos motores
.......solto ao fumo de gasolina queimada.

Por Ferreira Gullar, em 'Dentro da Noite Veloz', José Olympo Editora, 4ª Edição