terça-feira, 4 de maio de 2010

DIALÉTICA

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

Por Vinícius de Moraes

De Tom para Vinícius

Meu Vinícius de Moraes
Não consigo te esquecer
Quanto mais o tempo passa
Mais me lembro de Você

Cadê o meu poetinha?
Cadê minha letra, cadê?
Eu morro neste piano
De saudade de Você.

Do encarte do belíssimo CD 'Tom canta Vinícius - Ao Vivo' (Biscoito Fino 2009)
Com Paulo Jobim, Tom Jobim, Paula Morelenbaum, Jaques Morelenbaum e Danilo Caymmi.

Manoel por Manoel

"...Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores."

Da orelha do livro 'Menino do Mato', de Manoel de Barros

Uma ambição...

Naquele dia eu estava um rio.
O próprio.
Achei em minhas areias uma concha.
A concha trazia clamores do rio.
Mas o que eu queria mesmo era de me
aperfeiçoar quanto um rio.
Queria que os passarinhos do lugar
escolhessem minhas margens para pousar.
E escolhessem minhas árvores para cantar.
Eu queria aprender a harmonia dos gorjeios.

Por Manoel de Barros, em 'Menino do mato', 2ª parte - Caderno de apreniz - nº 33.