quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

ALÉM-TÉDIO

Nada me expira já, nada me vive
— Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital…
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu… Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.

E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios…

Por Mário de Sá-Carneiro

4 comentários:

Anônimo disse...

esse blog já foi mais alegre....rs

Anônimo disse...

troxa! hahaha beijocas e saudades de vc!

Thai disse...

Vc é a anônima mais identificada da face da terra.
Saudades tb! Dessa semana não passa!
Bjooooooooo

Thai disse...

Resposta ao primeiro:
Se o ano tem quatro estações e a lua, fases.. Se as lagartas viram borboletas e as rosas murcham, por que meu blog não pode oscilar de vez em qdo (tal e qual sua dona..)rs?
Ah, e o poema é bonito, não? Eu achei! ;)
Obrigada pela visita!