segunda-feira, 14 de julho de 2008

Ética a Nicômaco - Fragmentos 1

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Um mestre em qualquer arte evita o excesso e a falta, buscando e preferindo o meio-termo – o meio-termo não em relação ao objeto, mas em relação a nós.
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Por isso dizemos muitas vezes que nada se é possível acrescentar ou tirar das boas obras de arte, querendo dizer que o excesso e a falta destroem a excelência dessas obras, ao passo que o meio-termo a preserva, e como dissemos, os bons artistas no seu trabalho buscam isso –, e se, além disso, a virtude, do mesmo modo que a natureza, é mais exata e melhor que qualquer arte, segue-se que a virtude deve ter a qualidade de visar ao meio-termo. Falo da virtude moral, pois é ela que se relaciona com as paixões e ações, e nestas existe excesso, carência e um meio-termo.
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Por outro lado, é possível errar de várias maneiras (pois o mal pertence à classe do ilimitado e o bem à do limitado, conforme os pitagóricos imaginaram), enquanto só é possível acertar de uma maneira. Também por esse motivo é fácil errar e difícil acertar: fácil errar a mira, difícil atingir o alvo; e também é por isso que o excesso e a falta são características do vício, e a mediania é uma característica da virtude: “Os homens são bons de um modo apenas, porém são maus de muitos modos”.
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Mas nem toda ação ou paixão admite meio-termo, pois algumas entre elas têm nomes que já em si mesmos implicam maldade, como por exemplo, o despeito, o despudor, a inveja, e, no âmbito das ações, o adultério, o roubo, o assassinato. Com efeito, nessas ações e paixões e outras semelhantes, a maldade não está na falta ou excesso, mas implícita nos próprios nomes. Nelas nunca será possível haver retidão, mas tão-somente o erro.
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Aristóteles
Por Pietro Nassetti

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