domingo, 5 de agosto de 2018

Da espera

Sobre a revelação:

Perdi a conta de quantos poemas e canções traduzem uma das piores, senão a pior, condição [predominantemente] feminina: o lugar de espera. Sempre fico indignada quando me percebo neste lugar e faço de tudo para fugir dele, tal como a personagem do conto que li ontem. Neste livro, o título de cada conto é o nome de uma mulher - imagino que todas sejam pretas. Uma história é mais inquietante que a outra.

A tela - delicadíssima - é uma das minhas preferidas da Pinacoteca do Estado de SP.

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"My sister, quem tem os olhos fundos começa a chorar cedo e madruga antes do sol para secar sozinha as lágrimas. (...) Nada me garante que a espera pode me conduzir ao que quero. Na espera, temo que os dias me vazem entre os dedos. Só quem tem iamini**, primeiramente em si mesmo, se lança pelos caminhos do mundo. Digo mesmo que o tempo é curto, por isso, desde menina, sempre corri.

Por Conceição Evaristo, no conto 'Mary Benedita', do livro 'Insubmissas lágrimas de mulheres'

**Iamini - pelo que pesquisei, é "acreditar", "crença" no idioma suaíli.


*Saudade, Almeida Júnior. Acervo Permanente da Pinacoteca do Estado de SP.

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