Por Guimarães Rosa, em 'As margens da alegria' - conto de 'Primeiras Estórias'.
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Cor de Rosa
E como pode alguém escrever algo tão bonito sobre um peru, aos olhos de um menino encantado?
"Senhor! Quando avistou o peru, no centro do terreiro, entre
a casa e as árvores da mata. O peru, imperial, dava-lhe as costas, para receber
sua admiração. Estalara a cauda, e se entufou fazendo roda: o rapar as asas no
chão – brusco, rijo, - se proclamara. Grugulejou, sacudindo o abotoado grosso
de bagas rubras; e a cabeça possuía laivos de um azul-claro, raro de céu e
sanhaços; e ele, completo, torneado, redondoso, todo em esferas e planos, com
reflexos de verdes metais em azul-e-preto – o peru para sempre. Belo, belo! Tinha qualquer coisa de calor,
poder e flor, um transbordamento. Sua ríspida grandeza tonitruante. Sua colorida empáfia. Satisfazia os olhos, era de
se tanger trombeta. Colérico, encachiado, andando, gruziu outro gluglo. O
menino riu, com todo o coração."
Por Guimarães Rosa, em 'As margens da alegria' - conto de 'Primeiras Estórias'.
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