sexta-feira, 7 de agosto de 2009

cor de Rosa (Fragmentos - 15)

O que é de paz, cresce por si...
(...)
Sério, quieto, feito ele mesmo, só igual a ele mesmo nesta vida(...). Naqueles olhos ...tinha muita velhice, querendo me contar coisas que a idéia da gente não dá para se entender - e acho que é por isso que a gente morre.
(...)
Apanhei foi o silêncio dum sentimento feito um decreto.
(...)
Será que tem um ponto certo, dele a gente não podendo mais voltar para trás? Travessia de minha vida. (...) Agora, o mundo quer ficar sem sertão.
Primeiro, fiquei sabendo que gostava de Diadorim - de amor mesmo amor, mal encoberto de amizade. Me a mim, foi de repente, que aquilo se esclareceu: falei comigo. Não tive assombro, não achei ruim, não me reprovei - na hora.
(...)
O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente... o pensamento dele que em mim escorreu figurava diferente, um Diadorim assim, meio singular, por fantasma, apartado completo do viver comum, desmisturado de todos, de todas as outras pessoas - como quando a chuva anda entre-onde-os-campos. Um Diadorim só pra mim. Tudo tem seus mistérios. Eu não sabia. Mas, com minha mente, eu abraçava aquele Diadorim - que não era de verdade. Não era? A ver que a gente não pode explicar essas coisas. Eu devia ter principiado a pensar nele do jeito de que decerto cobra pensa: quando mais-olha para um passarinho pegar. Mas - dentro de mim: uma serepente. Aquilo me transformava, me fazia crescer dum modo, que doía e prazia. Aquela hora, eu pudesse morrer, não me importava.

Por João Guimarães, em 'Grande Sertão: Veredas'

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