quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Dois poemas de Saramago

DEMISSÃO
Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo demais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.


*

NÃO ME PEÇAM RAZÕES

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é demais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

Em "Os Poemas Possíveis"

Um comentário:

Anônimo disse...

Dá uma olhada nessa carta!
beijo.
Nori

http://www.carolleaes.com/blog/?p=90