quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
cor de Rosa (Fragmentos - 9)
Ah, não; amigo, para mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço ao outro e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo com o fazer a injustiça aos demais. Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou – amigo - é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por que é que é.
Por Guimarães Rosa, em 'Grande sertão: Veredas'.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Teus olhos
Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima,
silêncio que fala,
tempestades sem vento, mar sem ondas,
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
........duma árvore e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cesta de frutos de fogo,
mentira que alimenta,
espelhos deste mundo, portas do além,
pulsação tranquila do mar ao meio-dia,
universo que estremece, paisagem solitária.
Octavio Paz
Por Luis Pignatelli, em 'Liberdade sob Palavra'.
silêncio que fala,
tempestades sem vento, mar sem ondas,
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
........duma árvore e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cesta de frutos de fogo,
mentira que alimenta,
espelhos deste mundo, portas do além,
pulsação tranquila do mar ao meio-dia,
universo que estremece, paisagem solitária.
Octavio Paz
Por Luis Pignatelli, em 'Liberdade sob Palavra'.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Dois poemas de Saramago
DEMISSÃO
Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo demais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.
*
NÃO ME PEÇAM RAZÕES
Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.
Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é demais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.
Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo demais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.
*
NÃO ME PEÇAM RAZÕES
Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.
Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é demais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.
Em "Os Poemas Possíveis"
O Caos do Sonho
Estou deitado no sonho não
perturbes o caos que me constrói
Afasta a tua mão
das pálpebras molhadas
Debaixo delas passa
a água das imagens
Gastão Cruz, em "Órgão de Luzes"
perturbes o caos que me constrói
Afasta a tua mão
das pálpebras molhadas
Debaixo delas passa
a água das imagens
Gastão Cruz, em "Órgão de Luzes"
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
Cecília...

“Leitura” (1892), de Almeida Jr. , pintor paulista.
Pinacoteca do Estado de São Paulo.
.
Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde, foi nessa área que os livros se abriram e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano.
Cecília Meireles
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
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